é enlouquecedor ter que envelhecer
o momento que sonhei durante toda a minha vida finalmente está acontecendo: sair de casa
eu estou em processo de mudança por causa da faculdade e, como qualquer pessoa que cresceu com problemas em casa, esse foi um momento muito aguardado desde que me entendo por gente. mas, por que quando finalmente isso está acontecendo, eu sinto que parece ser tudo igual?
cresci com a fantasia de que aos 18 anos estaria formada, morando sozinha em uma casa de uns 3 andares, com piscina, um lindo jardim, dirigindo um bom carro e trabalhando como professora de matemática (me dê um desconto, eu estava no sexto ano e a matemática era 2+2). obviamente isso não aconteceu e não vai acontecer, me formei aos 17, ainda moro com minha avó, ainda tenho problemas em casa e comigo mesma, não tenho um carro e muito menos uma carteira de motorista e já não quero mais ser professora. as coisas mudaram. eu fui crescendo e entendendo como esse mundão de Meu Deus funciona, que eu não iria conseguir sair de imediato de casa, que teria de penar um pouco e ter muita paciência, que mesmo o ensino médio acabando, eu não estaria com a vida feita.
no auge dos meus 15 anos, quando as coisas pareciam mágicas demais, eu até pensava em fugir de casa, achava que não deixariam eu sair mesmo que fosse para fazer faculdade e já tinha todo um plano em mente - era simplesmente arrumar as malas e vazar. como uma boa canceriana, eu sinto demais, e pior ainda nessa idade, onde qualquer coisa pode ser o fim do mundo, eu sentia que ninguém me entendia, ninguém me apoiava. era 2022, tínhamos acabado de sair de uma pandemia, muita coisa nova, o ápice da minha adolescência, a idade que todo mundo fala para se aproveitar, tem até uma grande festa, que eu não fiz por “não ter ninguém pra chamar”. eu só estava preocupada em tentar sair de casa, tanto literalmente me mudar, quanto ir na esquina, já que nunca fui uma criança de brincar na rua ou na casa das amiguinhas, eu queria fazer com que minha vó me deixasse sair mais, até que consegui, foi nesse ano que comecei a sair sozinha com amigas, ainda com dificuldade, mas muito melhor do que não sair de jeito nenhum. é engraçado, ás vezes eu olho pra trás e parece que nessa época eu era bem mais livre e feliz - enquanto ela estava sendo vivida não parecia tanto assim.
hoje, pós término do ensino médio, com 17 anos, ainda sem saber de muita coisa, mas já sabendo mais do que eu sabia com 15, continuo achando que minha vida vai mudar completamente quando finalmente sair de casa. isso nunca mudou. agora que estou passando por esse processo, ainda não parece real, talvez por não ter nada organizado, sei que vou me mudar já que passei na faculdade (urrulll jornalismo na federal!!!), mas ainda não tenho casa, emprego, dinheiro, móveis. eu tenho uma matrícula e um sonho (e uma melhor amiga que também tá na mesma). mesmo com tudo isso acontecendo, pra mim, as coisas são iguais, ainda saio pouco de casa, não por vontade própria e sim por não ter permissão, visto as mesmas roupas de sempre, vou á igreja todos os domingos -mesmo não querendo-, tomo o café de todos os dias ao acordar, tenho os mesmos amigos, a mesma família disfuncional, os mesmos sonhos, o mesmo cabelo curto que nunca cresce. e olha que eu tenho medo do novo, não ter controle do que pode acontecer é assustador pra mim, mas de alguma forma esse novo em específico é necessário para eu sentir que, ironicamente, tenho controle de algo. eu posso estar muito enganada, posso quebrar muito a cara, ter dificuldades morando sozinha, isso faz parte do processo, a gente aprende vivendo, eu quero poder viver isso, me sentir livre de alguma forma. afinal, eu mereço crescer e ir embora, não?
you cant let it go,
you cant thow a party full of everyone you know
and not invite your family, ‘cause they never showed you love
you don’t have to be sorry for leaving and growing yp
sempre me senti presa, sei que não fui criada pro mundo, é como se desde sempre pensassem que eu viveria para sempre nessa casa, cuidando dos outros e jamais pensaria em sair, viver coisas novas, me formar, ser feliz. tive uma infância linda, apesar dos pesares, muitos momentos bons foram vividos com minha família, ás vezes eles até conseguem ultrapassar os ruins, mas depois de tantos anos entendo alguns muitos traumas causados. em 2022, quando o Harry Styles lançou Matilda (trecho citado acima) foi um acontecimento, era como se eu tivesse mandado uma dm e ele decidiu escrever uma música. a arte salva! se sentir compreendida por meio de músicas, filmes, ou qualquer tipo de arte é sempre um sentimento de pertencimento, de que não, não estou sozinha. o mesmo quando ouvi pela primeira vez a Taylor Swift cantando I Just Wanted You To Know That This Is Me Trying. fui uma criança prodígio, estudava como ninguém, era sempre aluna destaque, tentava ser a melhor em casa, o problema era que eu não estava sendo eu mesma, com a pandemia deixei os estudos de lado, deixei de me preocupar com nota, foi se criando uma certa rebeldia, consegui sair da pastoral da igreja que era obrigada a participar, fui ficando cada vez mais calada em casa, ninguém sequer sabia do que eu gostava ou deixava de gostar, foi - e é - difícil passar toda uma adolescência sem sua família saber ao menos sua cor favorita. eu realmente tentava não ser a pior filha-neta-amiga-aluna, estava preocupada em me entender, em saber do que ou de quem eu gostava, queria apenas ser uma adolescente normal que sai com as amigas, que tem amores, queria ter uma boa relação com minha mãe, queria que ela fosse minha melhor amiga, queria assistir bons filmes, ouvir boas músicas e não me preocupar se minha nota seria 10 em todas as disciplinas. mas parecia que eu só continuava no mesmo lugar. e eu sempre continuava tentando. afinal, I've Never Been A Natural, All I Do Is Try, Try, Try.
depois de muito enrolar, finalmente assisti Lady Bird, terminei com o pensamento “meu Deus que menina chata!!!”, até parar e pensar que eu me identifico com ela em alguns momentos, o que não muda o fato dela ser chata. quando se tem 17 anos você acha que o mundo inteiro está contra você e todo dia parece ser o fim do mundo, engraçado, parecia assim aos 15 anos também. assim como ela, tenho problemas com minha mãe, com meu pai, já sofri por amores, a escola já foi um péssimo lugar, discuti com minha melhor amiga, tive meu primeiro emprego e meu sonho era sair de casa. no caso, ainda é. sempre quando penso que estou sendo dramática, exagerando em ter tanto essa vontade de ser livre longe daqui, penso nesse filme, penso que não é o fim do mundo (talvez seja levando em consideração a situação política-social), que eu posso me sentir assim, me permito ser inconsequente, na medida certa. eu só não quero fazer uma faculdade qualquer sem gostar, me casar jovem, ter filhos, continuar nessa cidadezinha pequena e continuar essa tradição familiar, não quero ser mais uma nos índices de mulheres que vivem infelizes, que não fizeram o que de fato queriam.
em algum momento, sinto que as coisas vão mudar de verdade, elas vão começar acontecer, as aulas da faculdade vão começar, vou fazer novas amizades, conhecer uma cidade nova, ir em novos bares, cafés, praias, e aí sim, finalmente, vou ter a sensação de que alguma coisa mudou. por estar muito em casa, sem fazer nada, só rolando o celular o dia inteiro, começando e não terminando filmes e séries, faz eu ter essa falsa sensação de que meu mundo está parado, o resto do mundo continua acontecendo, eu continuo tendo que procurar casa, emprego, continuo tendo problemas reais, mas enquanto não faço nada disso, porque muita coisa não depende só de mim, sinto que está tudo igual.
and i’m so sick of seventeen
where’s my fucking teenage dream?
listinha de coisas para fazer nessa nova fase!
enquanto sinto que nada mudou, vou fazendo listas de coisas para fazer quando as coisas finalmente mudarem. como penso que tudo vai ser diferente, é como se fosse uma nova vida, skin nova e essas paradas, preciso começar novos hábitos, esses que já deveria ter sido começados há algum tempo, mas, por algum motivo, não comecei.
exercício físico: por mais clichê que isso seja, eu realmente preciso disso!! não do tipo adolescente conservador, café com Deus Pai, que acorda 5am, mas de um jeito estou me cuidando!!! eu faria yoga, pilates, natação, vôlei, caminhada (e qualquer outro esporte, sou uma menina de muitos quereres), porém vou ficando com o básico de academia e, talvez, uma caminhadinha.
inglês: quero fazer algum cursinho, online ou não, de preferência que não seja, esse negócio de ter constância e ter essa responsabilidade de estudar sozinha é difícil, algo que tenho que mudar também.
conhecer novos lugares: eu vou estar em uma nova cidade, sem conhecer nada, vou ter medo, com certeza, só que não quero deixar o medo me consumir e acabar ficando apenas em casa, enquanto tenho uma cidade (grande) esperando pra ser explorada. quero ir na praia, ir em cafés, em bares, em restaurantes, nas casas de futuros amigos, no cinema, tem algum rolê? tô dentro!
ler 1 (um) livro por mês: pensando em como a vida vai ser corrida com faculdade, emprego, cuidar de casa sozinha, acredito que vou estar constantemente cansada e dando desculpas para não ler e eu não quero que isso aconteça, não quero perder esse hábito que sempre esteve presente na minha vida e me ajudou num momento horrível que foi a pandemia. sem muita pressão, pelo menos um livro por mês não deve ser tão difícil, né?
inventei de fazer essa lista pensando que seria um grande mousse e teria bastante coisa pra por, só que agora não consigo pensar em tantas coisas. acho que esses são os principais - é tudo que penso agora -, vai ser um ano mais de adaptação, de mudanças, descobertas, vou precisar ser mais responsável, mais cuidadosa, vou ter problemas de gente grande (contas pra pagar), também não quero me iludir fazendo uma grande lista sabendo que estarei mais preocupada em arranjar emprego e se vou ter dinheiro no final do mês.
é doido pensar que algo que eu sempre quis está acontecendo e eu sinto que tá tudo igual, porra, você vai se mudar!!!!! se anima!!!! enquanto eu não estiver numa kitnet, com caixas pra arrumar, vou continuar perguntando Cadê Meu Sonho De Adolescente? olhando agora, penso que criança louca eu era aos 15 anos (e bem antes disso também), sempre com sede, com pressa, querendo que tudo fosse naquele exato momento, ainda hoje lembro de ter 8 anos e falar pra minha mãe que queria ter 13 e ela me responder “Quando Tu Tiver Com 13 Vai Querer Ter 8”, é mãe, a senhora estava certa. Quero ser criança pra sempre, que medo de crescer e não ter nada me esperando, de não conseguir uma carreira descente, de não encontrar um grande e lindo amor, de não ter minha casa, não de 3 andares, mas uma bem simples estilo de vó, com várias plantas, de não tirar a carteira de motorista e dirigir um belo carro, de não viajar pro RJ, ou sair do país, medo de não conseguir comprar a roupa do meu artista favorito, de não ir em shows, de não aprender inglês, espanhol. Tenho medo de não conquistar nada e não realizar coisas que cresci sonhando.
when will you realize?
vienna waits for you?
dicas :)
não poderia não ser o Short n’ Sweet (Deluxe), mais especificamente Please 3x feat Dolly Parton, com o clipe onde o Barry Keoghan é morto, melhor ainda saber que a Dolly é a cantora favorita dele. Sabrina Carpenter você é MULHER !!!!! (ainda não acredito que foi tudo casual, homem sendo homem né).
i can’t lose another boy that’ not even my boyfriend
foi isso! espero que alguém goste!
um abraço! beijos ;)
Eu me senti invadindo sua vida.🥺 Entendo bem o que sente e te desejo o melhor e que apesar das devoluções da vida, você permaneça forte e não se desespere se cair de novo, nós caímos para levantar. O tópico da sua vida que você descreveu me lembra meu posto mais recente, passa lá. ;3